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Arquivo mensal: outubro 2013

estranhos dentro do aquário. garfo sem ponta. faca sem dente. peixe espada. sem boca. sem graça. pé e escada. no quarto de hotel. caminho de voltas. pela janela fechada. era março no calendário. do ano passado. datas e nomes. sozinho em alguma jangada. era espelho. era espera. era espada. peixe fora d’água. borboletas no aquário. porta fechada. maçaneta e mão. pé-de-cabra. vinte mil léguas desaparecidas. em alguma onda. quem vai te encontrar sem procurar o que encontra? parafuso sem girar. martelo para amaciar. pontas soltas para dobrar. pergunte ao pó. às pegadas que eu deixei. diagnosticado. ar comprimido. mergulhado. procurando uma mão. aquela estendida. uma cascavel preparando o bote. o bote… o bote… salva-vidas.

Era fácil. Ser suave. Ser opaco. Ser amargo. Feito garfo. Três caminhos. Bifurcados. Era arco. Feito volta. Meio círculo. Do caminho. É o mesmo. Coração. Não esquece. Era antes. Do pretérito. Contramão. Mais que perfeito? Do que era feito? Era medo. Quase receio. De não respirar. E só encontrar. Um círculo sem curvas. Um minuto. Um silêncio. Um mergulho. Pra respirar. Em cada ponta. Em cada instante. Do próximo segundo. Que só por um momento. Será antes.

Antes da refeição dançamos de olhos fechados por saber cada passo. Nas alegrias uma lembrança que não passa. E eram brancas. E eram páginas. Suas mãos. Rasgando cartas. Outrora estávamos juntos naquela vida. Enrolados como macarrão. Ensopados dentro de um molho temperado. Comíamos paz. Em nossa casa. Uma janela aberta recebendo a noite. A chama que cada estrela sussurrava. E você sorria. Em sua vida. Você sorria. Entre suas coisas na sala. Seu universo de temperos espalhados pela cozinha. Pequenos gestos de ternura que preparava. No avental o branco das tuas mãos espalmadas. E sal, e fogo, e água. Um banho, um perfume, uma alma. Cabelos presos. Pés lavados. Banhados no azeite. Onde mergulhamos antes do jantar. Ofurô e vapor.  Era doce te ouvir cantar. Em cada canto, em cada gesto. Uma casa pode não ser um lar. Sibilava a água. E você sorria. E nada escapava. E por essas pequenas coisas as estrelas abriram suas chamas. E no céu brilhavam. E veio a chuva. Acho que salivam. Certas de que a vida no pequeno planeta ganhava algum sabor. Naquela noite. Naquela cozinha. Naquela casa. O que era a vida depois da primeira garfada? Ficava presa. Entre nossas línguas. Que se tocavam.